quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Quando encontrei meu Anjo (1/3)

Pra início de conversa...

Eu nunca fui uma garota de muitos valores e virtudes. Não, na verdade eu não tinha valores e virtudes. Não nasci para agradar ninguém além de mim, não nasci para ser o que queriam que eu fosse, e por falta de compreensão dos meus pais quanto a isso, fugi de casa em plenos 16 anos.
E foi nas ruas que encontrei meu destino.

Conheci Cloud no meu aniversário de 17 anos. Um caçador de recompensas e outras coisas... Ele era meio louco, jurava que coisas como vampiros e lobisomens existiam, mas pra mim ele era só um cara de 45 anos que estava começando a ser afetado pela idade.



Vai uma cerveja? Aproveite enquanto não dirige. ─ Cloud sempre parava nos botecos de esquina pra comprar algo. Desde carveja até espumante, ele nunca sabia fazer uma perfeita combinação de bebida e comida. Uma vez vi ele comendo um pacote de cheetos e bebendo uísque. Mas não tinha jeito.
Peguei a lata que ele jogou pra dentro do carro e comecei a seção de bebedeira do dia.

─ Então, eu acho que to precisando de umas roupas novas... O que acha? ─ Olhei-o com o canto dos olhos, e vi ele quase cuspir sua bebida com um riso.
─ Se a intenção é parecer bonita pra um garoto, eu sugiro que ande pelada. ─ Ele sorriu.

Talvez parecesse estranho para ele me ouvir pedir algo como aquilo, já que eu nunca me incomodei com minha calça jeans desbotada, meu all star surrado, minha camisa preta e minha jaqueta para os dias frios. Acho que na verdade ele nunca me vira nem mesmo pentear o cabelo.

Revirei os olhos e dei mais um gole.
─ E o que temos pra hoje?
Perguntei dando uma olhada no estoque de munição.
─ Esse é o cara.
Ele me passou a foto.

Parecia alguém importante. Um rapaz de não mais que 25 anos. Barba mal feita, hmm sexy! Cabelo negro ondulado, pele parda, não mais que 1,85 de altura e... Seus olhos... Eram de um azul diferente, tão diferente que não consegui escapar deles. Azul como o céu à noite. Escuro e brilhante, uma pessoa menos observadora não teria percebido que era azul e acharia que era preto...

─ Se chama Marco.
─ E marca mesmo... ─ Resmunguei sarcasticamente.

Pelo retrovisor vimos outro carro da polícia.
Desde que aquela praga do Nando me viu entrar no carro, a polícia nos segue a mando dos meus próprios pais. As vezes chega a ficar crítico, principalmente quando aparecem viaturas seguindo Cloud por seus crimes também.

─ Merda! Anda logo seu bêbado!
─ Você que manda bebê! ─ Ele riu acelerando.

Esperamos anoitecer e seguimos para a festa.
Seja quem for, quer mesmo esse tal de Marco morto. Até nos deu roupas e convites para a festa de seu aniversário. 24 anos. Eu nunca erro.
Lá estava ele. E nosso plano estava pronto. Esperaríamos o fim da festa e Cloud levaria ele para fora da casa, enquanto eu estaria aguardando da esquina com a arma mirando exatamente entre seus belos olhos.
E tudo estava indo perfeitamente bem.
Uma festa e tanto! Um baile de máscaras... Bem conveniente uma vez que eu nunca erraria o alvo e ninguém descobriria que eu sou a garota desaparecia dos jornais.
Foi quando o relógio marcou 2h da manhã que tudo começou de verdade, o plano estava pronto para ser executado...

Quando encontrei meu Anjo (2/3)


Já estava na hora. Saí da festa e fui me posicionar a espera de Cloud com Marco.
O vestido longo e justo me incomodava, era uma pena o que eu estava prestes a fazer com um vestido tão caro, mas eu o rasguei. Rasguei pouco acima do joelho e recarreguei a snipe.


Não era muito comum Cloud se atrasar minutos que fossem, mas daquela vez chegou a preocupar.
Onde ele estava?
De repente apareceu no jardim aquela figura alta de smoking, com uma mascara preta. Mas não era Marco, era Cloud. Dando de ombros e balançando a cabeça negativamente. Respirei fundo e deixei o ar sair de uma vez. Alguém tocou meu ombro. Uma mão fria e cuidadosa. Gelei totalmente. Tinha medo de quem poderia ser. E o pior, é que era. Apesar de todo medo e vontade de correr, não dei se quer um passo. Apenas o encarei.

─ Quem? ─ Ele não estava perguntando meu nome, muito menos me chamaria para sair.
─ Não me intrometo nisso, só ajudo meu parceiro ali. E é a primeira vez que alguém estraga nosso plano. ─ Cuspi as palavras em um tom de raiva e inconformação.

"Merda!Merda!MERDAA!" eu gritava comigo mesma em pensamentos turbulentos.
Eu apenas não sabia o que fazer.

─ Uma moça tão bela não deveria andar com um armamento tão...
─ É sexy.
─ Olhando de perto... ─ Ele tombou a cabeça e sorriu ─ É!

Eu ainda não estava com um humor tão bom para rir.

─ Tudo bem, eu dou o dobro do que a pessoa iria te pagar se você matá-la. Faria isso por mim? ─ Ele fez um bico ─ Pelo menos pela grana você tem que aceitar!

O que? Como assim? Aquilo me pegou desprevenida. Devo ter ficado entre cinco e dez minutos calculando... Mas espera... Quanto eu ia ganhar?
Foi quando algo acertou o rosto de Marco. E aquele "algo" era o punho de Cloud. Tentei pará-lo, mas só consegui falar sobre a proposta depois que ele levou dois socos no estômago, um no rosto e um chute que parece ter quebrado seu joelho. Pelo menos Cloud escutou com atenção.

Marco nos levou para dentro para conversarmos. Sentamos em um tipo de sala de estar no segundo andar e fomos servidos com vinho e petiscos.
─ Geralmente as pessoas me amam. Quase me adoram por eu ser quem sou. Mas de tempos em tempos sempre tem que aparecer um revoltado... ─ Ele resmungava ─ Foi assim em 1776, 1850, 1965, 1997 e agora...
Cloud e eu nos entreolhávamos enquanto Marco falava e tomava seu vinho.
─ Parece que humanos nunca aprendem...
Ele levantou e retirou o smoking, passando a desabotoar a camisa branca social que tinha por baixo.
─ Sabe o que são Nephillins? ─ Ele perguntou, mas pareceu retórico... Ou talvez ele falasse sobre algo distante demais do meu universo ─ São filhos de anjos com humanos. Bem, foi muito complicado se adaptar  por tanto tempo e seria um desperdício me matar agora.

Cloud arregalou os olhos, mas foi por pouco tempo.

─ Não senhor Cloud. Não sou um Nephillin. Na verdade, sou um anjo. E minha missão aqui é acabar com sua existência. Eles são um perigo para todos, sabe?

Então Cloud deixou o queixo cair. Enquanto eu não me dava por convencida tão fácil.
Meu ceticismo porém tinha um limite, e esse limite foi atingido quando o homem em minha frente retirou a camisa e abriu suas magníficas asas.

─ Não me mostro assim para pessoas, gosto de mistérios e coisas assim... Por isso o baile de máscaras também. Gostaram do tema? ─ Ele sorria.

Eu mal podia acreditar em meus olhos.
Parece que tínhamos um novo contrato...

Quando encontrei meu anjo (3/3)


Desde que nasci eu soube que era alguém diferente, só não sabia que meu fim seria tão diferente quanto eu.
E assim começou meu dia, chuva caindo em finos pingos, céu nublado, clima frio e corpo quente. Eu gosto de ouvir o barulho que a chuva faz quando bate no telhado, nem sei ao certo quanto tempo fiquei ali parada olhando para o nada escutando o "tec-tec" que me lembrava de um passado aparentemente tão distante...

― Agora assopre a velinha e faça um pedido!
― Isso! Parabéns minha linda! olha seu presente...
― Nossa mãe! Que linda!
― Achei que gostaria.
― Não existe boneca mais linda no mundo!

Cloud estalava os dedos sentado no sofá, também parecia em um devaneio e eu não queria atrapalhar, era raro vê-lo em um desses momentos. Levantei finalmente já em direção à cozinha. Enchi um copo de água e tomei alguns goles. Hoje nos encontraríamos de novo com aquele homem, se é que eu podia chamá-lo de homem. Passei da cozinha para o banheiro e voltei para a sala. Liguei o notebook e comecei a escrever mais uma das minhas histórias. Um dia, há muito tempo, eu quis ser escritora, pois só nos livros eu encontrava mundos e histórias que me satisfizessem.

 Gosto das suas histórias pequena, mas precisamos ir agora. - Dizia Cloud tocando levemente meus ombros.
― Tudo bem, eu já acabei aqui. - Ele me olhou com um olhar intrigado enquanto eu olhava para a tela do computador sem uma expressão clara.

Marco estava em seu luxuoso sofá de couro branco, com uma maleta aberta em uma mesa bem a sua frente e uma taça de coquetel na mão sendo levada constantemente à boca para um pequeno gole por vez.
Sentamos de frente a ele e ele apenas nos deu sua autorização.
Então era isso, era apenas pegar e sair?

― Qual seu nome? - Marco perguntava para mim. Por que aquela pergunta logo... Agora?
Desde que saí de casa não usava meu nome.
― Por que quer saber? - Perguntei cruzando os braços e olhando o chão.
― Quero que venha para a festa de hoje a noite. Preciso de seu nome para a lista de convidados.
― Violeta.
Ele assentiu.
Cloud então pegou a maleta levantou e nós caminhamos em direção à porta. Queríamos sair daquele lugar quanto antes, mesmo sem saber porque.
― Violeta. - Virei instantaneamente ao ouvir meu nome ser chamado por aquela voz, porém ao vê-lo com uma pistola na mão, a reação foi diferente.
― Apenas você. - E o disparo fez o maior e pior barulho que já pudesse ter ouvido. Foi certeiro na nuca de Cloud que cambaleou e caiu para frente.
Por que?
POR QUE AQUELE DESGRAÇADO FEZ... aquilo...
Caí ajoelhada ao lado do homem que bancou meu pai quando eu mais precisei, com lágrimas nos olhos gritei
― Não conte comigo seu bastardo! Infeliz!
De repente senti uma fria mão tocar meu ombro, mas eu estava paralisada. Eu sabia o que aconteceria agora. Minha voz travou, minha garganta deu um nó e eu o vi ajoelhar em minha frente.
― Nesse caso... - Ele aproximou seu rosto do meu e me puxou para si. Ele me beijou. Mas não era como um beijo qualquer.
― Você não merece uma morte como qualquer outra...
Então meu corpo todo estava tremendo. Ao longe vi aquele rosto. Meu corpo queimava por dentro e a ultima coisa que vi foram aqueles olhos.
Ao menos, eu naquele momento, fui feliz. Feliz por saber que minha vida fora algo único e que ninguém jamais teria vida igual a minha.
Senti todo aquele fogo me consumir de dentro para fora e ouvi a voz de mamãe dizendo...
"Bons sonhos minha querida..."

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Onde Estão?


Eu olhava lá de cima e já nem me recordava o que estava procurando. Eu deduzi que estava perdido há muito tempo, afinal, já não me lembrava mais. De alguma forma aquilo me magoava, mas não sabia porque. Eu devia lembrar? Eu não devia lembrar?
Olhei para os lados e não havia ninguém, então as memórias me voltaram. Memórias de primaveras floridas em piqueniques nos parques do bairro. Memórias de crianças que brincavam de pique na rua. Memórias de pessoas que cantavam e faziam danças loucas num temporal. Memórias que me fizeram sentir uma pontada, uma pontada forte no peito. Olha, aquela ali, a mais feliz, mais sorridente... Ela sou eu. Ou é o que eu era.
Onde estão todos agora? Todos que estavam em minha volta quando comíamos morangos fazendo caretas como se fossem amargos? Os que corriam comigo ou de mim em uma brincadeira de criança? Aqueles que me puxavam para a chuva para rir e me molhar de lama? Onde estão todos os meus amigos? Era assim que eu os chamava. Mas naquele momento, não havia mais nenhum. Nenhum deles ao meu lado, nenhum deles contando piadas, nenhum deles me xingando ou fazendo caretas. Nenhum deles apenas para estar lá. Então percebi que o tempo todo, fora eu quem fugira deles.
Me joguei. Sem medo. Pois na queda só há paz, o impacto vem quando toco o chão. E eu não estava preocupada em tocá-lo, pois eu sabia que meus amigos todos estavam lá.

Livup )